Versiones en portugués de Antonio Miranda

Selección de poemas en portugués.
Versiones de Antonio Miranda.

  • coisas e seres imaginários

    unicornios
    pégasos
    fadas-madrinhas
    poções para a vida eterna
    centauros
    sereias
    segundas-feiras otimistas
    dragões com hálito de fogo
    riquezas limpas
    dia do juizo final
    anjos-da-guarda
    impérios benfeitores
    libres pensadores
    êxtase a domicílio
    progresso linear
    idéias inocentes
    planos de paz paz
    carícias idénticas
    computadores inteligentes
    palácios encantados
    policiais encantadores
    franco-atiradores felices
    maquiagem indelével
    ogros e elfos
    armas vitais
    tribunais infalíveis
    sátiros educados
    querubíns
    hidras
    políticos espontáneos
    jornalismo independente
    virgens
    virgens satisfeitas
    sexo libre
    cura geral
    agua para todos os moinhos
    sábios a tempo
    e deus

  • carpe vinum

    não guardemos o vinho refinado ou não que soubemos conseguir
    ou que nos cederam
    melhor tomá-lo agora mesmo
    porque amanhã talvez não seja outro dia
    o mundo é provisório
    vivemos numa zona sísmica e um cataclismo pode arrasar tudo
    em dois minutos
    e além disso o néctar maravilhoso
    contribui para esquecer os detalhes
    deste caos
    prolixo

  • olhá lá

    olha lá se não chegam estas mensagens a tempo
    e teu objetivo não se cumpre
    como atarefadamente havias planejado
    olha lá se teu mestre morre exatamente nesse instante
    em que o necessitavas como agua
    olha lá se o vento arruina tua nova desorden
    e deixa tudo em seu lugar
    olha lá se olha por fim nos olhos
    dessa pessoa que te ama
    e aprendes de uma vez a olhá-la
    olha lá se triunfa finalmente tua imaginação
    e fecham todos os departamentos de reclamações
    olha lá se torna a chover ódio
    e voltas a dizer que por algo será
    olha lá se todos os pássaros desta manhã
    batem em tua porta
    e você nem tá aí

De “Poemas”, Mendoza: Ediciones Simples, 1999

  • 7

    solta meu pescoço
    pouco a pouco
    ou como queira
    sempre e quando
    não te pareça mal
    deixar-me
    respirar

  • 10

    o cansaço nasce nas costas
    a dor no estômago
    às vezes no peito
    o amor e o ódio
    por todos os lados
    a tristeza circula pelas veias
    a ternura costuma deter-se nas mãos
    na voz
    a pena dobra as pernas
    a alegría pousa às vezes nos olhos
    o desejo quase sempre caminha pela saliva
    pela pele
    a solidão cresce
    entre as orelhas

  • 22

    uns homens tesos
    e além disso contentes
    com cara de não-passa-nada
    de que-lindo-que-chove
    e essas coisas

  • 35

    e outra vez chegaram
    e disseram
    o camino é para lá
    e todos fomos
    para lá

  • 46

    um poema é uma nova orden
    mínima
    fugaz
    muitas vezes inútil
    um poejma é um alambrado cortado
    para que alguém corra libre
    até a próxima
    cerca